De Estafeta a CEO
Conheca a historia inspiradora de Rui Bairrada, que em 1995 era estafeta num banco e hoje é CEO da empresa Doutor Finanças.
O Doutor Finanças é um projeto de sucesso que muito tem contribuído para a literacia financeira dos portugueses e para melhorar a vida de milhares de famílias.
Numa abordagem inovadora da liderança e da gestão dos recursos humanos, Rui Bairrada assume-se como um CEO disruptivo, que mostra que o elogio, a amizade e o cuidado com o outro têm sempre lugar na mesa da administração, ou não tivesse como lema «fazer o bem, bem feito».
1. Criar um negócio, saber quando sair e voltar ao ponto de partida de criação de um novo negócio. Aqui estamos a falar do O poder da reinvenção? Fundamental para a saúde de um negócio?
A capacidade de nos reinventarmos é fundamental, quer seja na esfera pessoal ou profissional. E esta reinvenção pode nascer da vontade de fazer mais e melhor, ou apenas de fazer diferente. Quando sentimos que temos de sair de um qualquer projeto, apesar de poder existir algum desconforto, pode ser apenas a vontade de ir mais além a falar mais alto. A ambição nunca fez mal a ninguém. Pelo contrário. Com conta, peso e medida é com ela que avançamos e contornamos os nossos medos.
Neste meu percurso, vivi, de facto, alguns momentos em que senti que devia sair para seguir os meus sonhos. E se fosse preciso, voltar à casa da partida. E porque não? A conceção, o planeamento e a definição de um projeto nosso é um momento verdadeiramente poderoso.
Assim foi quando abri a minha primeira empresa e em todo o percurso até ao nascimento do Doutor Finanças. Ainda hoje os meus dias são feitos de decisões que nunca se tornam mais fáceis, mesmo que apoiadas por uma equipa de excelência como esta que tenho a sorte de ter ao meu lado no comando da empresa.
As ruturas e as decisões difíceis fazem parte da liderança. E também elas devem ser vividas em pleno. Nestes momentos, ouço o meu coração (que desde sempre teima em sobrepor-se à razão) e sento-me com os meus pares na comissão executiva. Sou o elemento que não receia a mudança e que está sempre pronto para abraçar novos desafios. Em muitas situações, reinventar e adaptar são as palavras mágicas numa fórmula que está por descobrir, mas que cada empresa deve tentar encontrar de forma a garantir a saúde do seu negócio.
2. Qual a importância de no nosso trabalho de nos regrarmos pelos nossos valores, não ter medo de partilhar sentimentos?
Os valores são os alicerces de tudo o que fazemos na vida. Recebi-os cedo no seio da família e refletem-se em todas as minhas relações, de trabalho ou não. Os meus pais são incontornavelmente as minhas referências e grandes inspirações em tudo e, particularmente, em liderança e empreendedorismo.
Do meu pai (o meu herói, a quem dedico este livro) herdei o rigor, o respeito e o honrar dos compromissos com que pautou a sua carreira militar. Da minha mãe, veio a força e o empreendedorismo que já marcavam o negócio do mobiliáriodeste lado da família.
Eu e o meu irmão crescemos felizes, livres para tomar as nossas decisões e preparados para lidar com as consequências. Boas ou más. O amor dos nossos faz toda a diferença e aforma solidária e carinhosa com que fomos sendo apoiados, fez de nós adultos atentos ao outro.
Afirmo, sem reservas, que escolhi liderar com proximidade, ouvindo o meu coração. Chamam-lhe liderança de afetos e ainda complico mais esta coisa dos rótulos e dos conceitos quando digo que “sinto cenas”. Esta é a forma que encontrei para dizer que as emoções, a intuição e a escuta genuinamente ativa, são a minha forma de fazer acontecer.
Em nada me constrange assumir que exponho fragilidades e procuro rodear-me de quem sabe o que não sei, de quem é melhor no que sou menos bom. As pessoas, e as suas histórias, apaixonam-me. Sempre que posso tento “colá-las”porque acredito que podemos sempre acrescentar valor uns aos outros.
O Excel, os gráficos e as métricas têm e vão ter sempre um papel crucial numa gestão que se quer de sucesso. Mas, este sucesso é feito de pessoas. Logo, estamos essencialmente a falar de sentimentos.
3. A importância da literacia financeira e de aprender a gerir as finanças pessoais. Acredito que uma gestão organizada das nossas finanças nos permite atingir os nossos objetivos.
A literacia financeira tornou-se uma bandeira que não me canso de erguer e agitar, lá bem alto se preciso for. Percebi o seu real valor no período pós crise de 2008. A empresa que detinha então foi claramente a expressão da tal capacidade de reinvenção a funcionar. O país, as empresas e as famílias, cada um com a sua frente de batalha, estavam mergulhados em sérias dificuldades.
Por força das circunstâncias, o crédito habitação sai de cena e foi preciso ajustar o foco do nosso negócio. O caminho era o da renegociação e reestruturação dos créditos que as famílias já tinham e que dificilmente conseguiriam honrar. Chegámos a estas famílias através das empresas onde trabalhavam, as quais tinham decidido ajudar dando-lhes formação em finanças pessoais. Informação é poder, e sempre será. Os portugueses precisavam, e continuam a precisar, de ter conhecimentos e mais ferramentas para poderem tomar melhores decisões financeiras.
De norte a sul do país, cruzei-me com histórias duras que me marcaram para sempre. Tanta família à beira do precipício por força do desemprego, da droga, prostituição, jogo… Mais do que encontrar soluções para os seus créditos ou garantir que apreendiam os conceitos financeiros básicos, foi tempo de ouvir. E desta partilha, em muitos casos, foi possível fazer renascer a esperança.
4. A saúde mental é a nossa maior aliada. Não podemos deixar cair para último plano.
A saúde mental é um bem inestimável. Aprendi da pior forma o quanto não pode, nem deve, ser negligenciada. Partilho no livro que passei por um burnout. Faço-o porque pode acontecer a qualquer um de nós e porque todos podemos sobreviver-lhe e voltar a viver de forma equilibrada.
Recordo-me que o burnout chegou de mansinho. Tomou conta de mim e senti-me a desmoronar. A azáfama, as responsabilidades que chamava só a mim, a tensão e exaustãoque acumulei numa fase mais intensa de trabalho, esgotaram-me. Mas, algo em mim continuava a impelir-me para vir ao de cima. Qual era o caminho? – perguntava-me vezes sem conta. O caminho era um só: para cima. Rumo aos meus. De volta aos meus sonhos.
Passei por um processo de recuperação. Procurar ajuda de quem nos rodeia é fundamental, mas contar com especialistas, é crucial. Passados alguns meses, rodeado de muita felicidadee da energia boa das pessoas com quem sonhava o futuro dos meus projetos, voltei a mim. Voltei mais forte.
5. O Doutor Finanças é o Rui Bairrada? Não, o Doutor Finanças são mais de 200 pessoas que têm muito a acrescentar e que fazem a empresa crescer, quem sabe, rumo à internacionalização.
Por mais que ao recordar que os meus filhos, ainda pequenos,diziam aos amigos que o pai era o Doutor Finanças me encha o coração e me faça soltar uma gargalhada, a verdade é mesmo essa: o Doutor Finanças não é o Rui Bairrada, mas sim um grupo de gente boa que tornou seu este meu sonho.
Durante muito tempo a empresa esteve associada à minha cara, a mim envergando orgulhosamente a bata. Mas, há já algum tempo que optámos pela dissociação da imagem e foi a melhor decisão. Fica uma doce nostalgia dos tempos em que as estratégias me levaram a dar ‘o corpo às balas’. Hoje, assumem o meu lugar outros dignos representantes. Os seus olhos e sorrisos brilham tanto ou mais, e isso só nos acrescenta valor e orgulho.
Indiferente ao cliché, continuo a afirmar que as pessoas são o ativo mais valioso de uma empresa. Não abro mão de os acompanhar de perto e, por isso, conheço os seus sonhos. E foi assim que o tema da internacionalização foi trazido para cima da mesa. Não estava nos meus sonhos, mas os magníficos com quem divido esta aventura fizeram-me verpor que é este o próximo passo. Queremos continuar a crescer, queremos continuar a ser os melhores. Porque não tentar explicar, noutras línguas, o que é isto de “fazer o bem, bem feito?”. Quando conhecerem o Doutor Finanças vão perceber do que é feita esta nossa máxima.